Governo reafirma política de "extrema firmeza" face à ETA
A segunda figura do executivo de Madrid, Maria Teresa Fernandez de la Vega, qualificou o anúncio da ETA de "insuficiente" e "decepcionante".
O ministro do Interior, Alfredo Perez Rubalcaba, considerou o comunicado divulgado no domingo pela ETA como estando "muito longe" do que o governo exige ao grupo clandestino: o abandono definitivo e sem condições da luta armada.
A organização clandestina, responsabilizada por 829 mortes em cerca de meio século de luta pela independência do País Basco, anunciou uma espécie de cessar-fogo, sem este nome, ao fim de um período superior a 12 meses sem realizar atentados.
A ETA explicou a decisão de não "realizar ações ofensivas armadas", sem especificar se esta paragem é temporária ou definitiva.
Rubalcaba entende que a ETA foi forçada materialmente a fazer esta paragem pelas repetidas operações policiais contra os seus dirigentes e a sua estrutura.
"A ETA para porque não pode mais. Para depois do desmantelamento da base logística que estava a construir em Portugal (...) e da sua saída de França, onde está muito mal", comentou o ministro.
Entre 2008 e 2010, a organização foi decapitada regularmente, com seis dos seus chefes sucessivos a serem presos, essencialmente em França, a base de apoio tradicional da organização.
O ministro disse ainda que o anúncio "ambíguo" de domingo não permitirá ao Batasuna, ramo político do grupo armado interditado desde 2003, voltar a ser legal em Espanha.
À semelhança do cepticismo do governo socialista, também o principal partido da oposição, o Partido Popular (PP, de direita), considerou "insuficiente" o anúncio da ETA.
O líder do PP, Mariano Rajoy, afirmou que "o único comunicado que importa é aquele em que a ETA anunciará a sua dissolução".
No País Basco, o Partido Nacionalista Basco (PNV, de centro-direita), que dirigiu a região durante 30 anos, até 2009, também rejeitou o anúncio, com o seu presidente, Iñigo Urkullu, a declarar que "o comunicado da ETA não é o que a sociedade basca espera", reclamando da ETA "o fim total da sua actividade".
Cristina Cuesta, filha de Miguel Angel Blanco, assassinado pela ETA em 1981, e que dirige a fundação de apoio às vítimas da ETA que tem o nome do seu pai, crê que este é apenas "um anúncio mediático".
Entende que "está tudo pouco claro" e que o comunicado não aborda "a questão essencial: o abandono definitivo das armas".
Qualifica de "importante e positiva" a reacção da opinião e do mundo político, uma vez que, "à excepção de pessoas muito ligadas à ETA, todos consideraram o anúncio decepcionante".
Considerando que se está a assistir "a uma morte lenta da ETA, graças à eficácia da polícia e à unidade internacional", Cuesta sustenta que "a firmeza política [face à ETA] é a política que deve ser aplicada".